A Congada de São Benedito é considerada a maior e mais antiga tradição cultural artística da cidade e vem resistindo ao longo dos anos, mostrando que o conhecimento das tradições e dos costumes caiçaras faz parte da vida e da história dos moradores. A Congada, realizada em Ilhabela há mais de 200 anos, é uma herança que foi trazida para o arquipélago pelos escravos africanos que aqui aportavam quando ainda se chamava Villa Bella da Princesa. Essa manifestação cultural e religiosa será realizada dentro da XVII Semana da Cultura Caiçara e Congada de São Benedito, instituída por Lei desde o ano 2.000. O evento, iniciado ontem, 18, traz o tradicional Baile dos Congos, Procissão de São Benedito, Missa dos Congos, Ucharia, exposição, palestras, quermesses e shows musicais. São poucos os registros que falam sobre o início do festejo, mas, segundo a arqueóloga e historiadora, Cinthia Bendazzoli, em sua participação no livro Congada de São Benedito, lançado em Ilhabela em 2012, “documentos antigos ainda preservados no Arquivo do Estado de São Paulo relatam a realização de Baile dos Congos em festividades locais oficiais em 1794”. Apesar desses registros oficiais, a publicação mostra também que nove anos antes, o escravo Roldão Antônio de Jesus já teria trazido a Congada de São Benedito para a cidade, pois era devoto do santo e passou a difundir sua crença. Uma das primeiras homenagens para São Benedito promovida durante a celebração é o levantamento do Mastro, que marca o início da festa. Antes de o Mastro ser fixado, onde permanece durante todos os dias de comemoração, é carregado pelos fiéis pelas ruas da Vila (onde toda Congada é realizada). Um Capitão é responsável pela preparação e zelo, assim como por dirigir a sua fixação e retirada da frente da Paróquia. Ao som de atabaques e marimbas, a apresentação da Congada reúne falas, danças, cantos, e narra a desavença entre dois grupos: os fidalgos do Rei de Congo e o exército do Embaixador de Luanda. Os fidalgos do Rei são chamados também de “Congos de Cima”, vestem-se de azul e são considerados “cristãos”. Já os integrantes do exército do Embaixador podem ser chamados de “Congos de Baixo”, usam vermelho e rosa e são considerados “pagãos”. As danças são divididas em três bailes que narram a história do Rei de Congo que engravidou uma plebeia e, para que a rainha não descobrisse, enviou essa mulher para a cidade de Luanda. O filho do rei transformou-se em Embaixador de Luanda e criou um exército para ir ao Congo pegar o que era seu pela linha de sucessão, o trono do Rei. Ao chegar ao Congo com o seu exército, o Embaixador deparou-se com o povo festejando São Benedito e desejou festejar também. Por isso, a Congada passou a ser a luta do exército do Embaixador de Luanda contra os fidalgos do Rei para a tomada do trono e para festejar São Benedito. O 1º baile também pode ser chamado de “Roldão” ou “Macambá” e narra a cantiga dos congos do Embaixador quando iniciam a guerra, incentivados pela ambição de tomar o trono do Rei e por querer festejar São Benedito. O 2º baile pode ser chamado de “Alvoroço”, “Jardim das Flores” ou “Grande Baile”, por ser o momento em que acontece uma guerra violenta entre os grupos. O exército do Embaixador faz evoluções provocativas aos fidalgos do Rei, que contam com a ajuda de um Secretário e de um Príncipe para fazerem a sua escolta. Já o 3º baile conhecido como “São Matheus” é marcado pela prisão do Embaixador por duas vezes tentar chegar perto do Rei. A partir das investidas que não deram certo, o Secretário e o Príncipe do Rei vão falar com o Embaixador, enquanto os Congos de Baixo gritam: “Guerra! Guerra!”. Um dos guias conta para o Secretário que o Embaixador é filho do Rei. Posteriormente, os Caciques, tanto do Rei quanto do Embaixador negociam a entrada do exército de Luanda no reino de Congo. Depois de o Embaixador entrar no Reino de Congo, o Rei o aceita como seu filho, lhe dá a bênção em língua africana banto e todos os congos celebram São Benedito em paz. Durante os dois dias de baile, é servida a Ucharia de São Benedito, responsável por alimentar os congos, seus familiares e a todos da comunidade durante os dias da festa. As doações são arrecadadas pelos devotos. A XVII Semana da Cultura Caiçara, que traz como principal atração a Congada de São Benedito, promove ainda através da Congada, a Congada Mirim, o bolo de São Benedito e a Missa dos Congos. Confira a programação da XVII Semana da Cultura Caiçara e Congada de São Benedito 19 Sexta-feira 17h Levantamento do Mastro de São Benedito, distribuição de bolo e concertada (Praça Alfredo Oliani – em frente à Igreja Matriz) Quermesse: 19h Palestra “A História da Congada” com Adriano Leite 20h Show Bárbbara Rodrigues 21h Show Marcelo Batuque e Formação de Quadrilha 22h Show Max Pianura e Violinista Robson Miguel 20 Sábado 9h Meia Lua / Procissão de São Benedito 10h Baile dos Congos 12h30 Ucharia de São Benedito 14h30 Baile dos Congos Quermesse: 21h Show Forrobodó 22h Show Lúcio Neves 21 Domingo 6h Alvorada Festiva 8h30 Meia Lua / Procissão de São Benedito 10h Missa dos Congos 10h30 Baile dos Congos 12h30 Ucharia de São Benedito 14h30 Baile dos Congos 18h Procissão e Missa de São Benedito Quermesse: 21h Show Pedrinho e Convidados 22h Show Geraldo Azevedo *De 18 a 20 de maio às 19h30 Tríduo e Santa Missa E mais: “Exposição Memórias Caiçaras – linguajar, fotos e peças antigas” a partir de 18/05 na Secretaria de Cultura e no Centro Cultural da Vila Roda de Conversa com Caiçaras Tradicionais, Histórias Caiçaras, Esquetes Teatrais, Danças Tradicionais, Casa Caiçara, Casa de Farinha e Artesanato Caiçara. Locais: Quermesse e Shows: Praça Coronel Julião, Vila. Ucharia de São Benedito: Salão da Igreja Matriz Nossa Senhora D’Ajuda, Vila Missa: Igreja Matriz Nossa Senhora D’Ajuda, Vila. Procissão: Ruas da Vila Baile dos Congos: Ruas da Vila