O início da temporada oficial de observação de baleias em Ilhabela, no dia 3 de junho, trouxe um feito impressionante: a
identificação de uma baleia-jubarte (
Megaptera novaeangliae), avistada na costa do arquipélago após percorrer cerca de 3.600 km desde as Ilhas Geórgia e Sandwich do Sul, no Atlântico Sul. O registro foi feito pela bióloga Marina Leite Marques, do VIVA Instituto Verde Azul.
Essa mesma jubarte havia sido fotografada no dia 7 de março pelo fotógrafo e ativista Justin Hofman, em uma das principais áreas de alimentação da espécie no hemisfério sul.
A conexão entre os dois registros só foi possível graças à plataforma Happywhale, que coleta e cruza dados coletados com as imagens das caudas das baleias — que funcionam como impressões digitais, únicas para cada indivíduo.
Assim, a foto feita por Marina permitiu identificar que se tratava da mesma baleia fotografada meses antes nas águas geladas do sul do Atlântico.
“Conhecer esse deslocamento é essencial para entender e proteger essas gigantes do mar — e só foi possível graças à colaboração entre pessoas comuns e pesquisadores, por meio da ciência cidadã”, destacou o Instituto Verde Azul.
Projeto identifica mais de 700 baleias
O projeto Baleia à Vista, que contribui com o Happywhale ao alimentar a base de dados da região de Ilhabela, começou a catalogar jubartes em 2016, quando os primeiros indivíduos voltaram a ser avistados após décadas de ausência.
Atualmente, já são
718 baleias identificadas, das quais cerca de 100 foram reavistadas — desse total, 32 tiveram registros de retorno ou permanência prolongada na região.
Entre as histórias marcantes está a da jubarte JACI, que reapareceu este ano nas mesmas águas onde foi observada em 2024. Já a baleia identificada como SP0691 foi registrada continuamente entre os dias 15 de maio e 3 de junho, depois de permanecer por quase 20 dias ao redor da ilha — e ainda pode estar por aqui.
“Cada baleia que identificamos é uma peça de um grande quebra-cabeça sobre a migração da espécie”, explica Julio Cardoso, fundador do projeto Baleia à Vista. “Esperamos ampliar ainda mais esse catálogo nesta temporada”.
População pode contribuir com a identificação de jubartes
A fotoidentificação de jubartes é feita por meio do
registro das suas caudas — que possuem padrões únicos de manchas, cortes e formatos, como se fossem digitais. A plataforma Happywhale analisa essas imagens e busca correspondências no banco de dados, o que torna possível identificar indivíduos e monitorar seus deslocamentos. Vale lembrar que
a identificação só se torna possível a partir do segundo registro: é ele que permite comparar e confirmar que se trata do mesmo animal avistado anteriormente.
Essa prática, conhecida como
ciência cidadã, tem se mostrado essencial para aprofundar o conhecimento sobre o comportamento e os deslocamentos das baleias, ao mesmo tempo em que engaja a população na causa da conservação marinha. A Prefeitura de Ilhabela tem reforçado o compromisso com a conservação das espécies e o incentivo à pesquisa.
“Ilhabela é um santuário natural que recebe essas gigantes com todo o respeito que merecem. Temos regras claras de avistamento para garantir a segurança dos animais e das pessoas, e apoiamos os projetos que estudam e protegem a vida marinha em nosso litoral”, afirma o prefeito Toninho Colucci. “Preservar as baleias é também preservar nossa identidade como destino de ecoturismo responsável”.
Temporada de avistamento de baleias vai de junho a agosto
Com o avanço da temporada 2025, cresce a expectativa por novos avistamentos e descobertas. Cada foto enviada pode representar a reidentificação de um indivíduo já conhecido — ou até mesmo a entrada de uma nova baleia para o catálogo. Avistou uma jubarte? Fotografe a cauda e envie seu registro para
https://happywhale.com. Sua imagem pode contribuir com a ciência e ajudar a contar mais um capítulo da incrível jornada das jubartes pelo Atlântico Sul.